Ah, o “dono da verdade”. Aquele ser iluminado, sempre com o dedo em riste e uma opinião formada sobre tudo, provavelmente premiado com o troféu invisível de “Fiscal de Pensamentos Alheios”. Pois é, essa figura carimbada geralmente sofre de um daltonismo moral muito prático: enxerga o mundo num glorioso preto e branco.
Não que ele não veja as cores de um pôr do sol. O problema é na hora de julgar os outros. Aí, a paleta se resume ao “branco imaculado” da sua opinião e ao “preto absoluto” de quem discorda. E os tons de cinza da dúvida, as nuances da vida real? Detalhes insignificantes, borrões na tela da sua justiça.
Você o reconhece quando ele transforma qualquer debate complexo num panfleto de “nós contra eles”. Tente um “talvez” e veja o curto-circuito. Ele também adora a Rádio “Eu Tenho Razão FM”, onde só toca o eco da própria voz. Opiniões diferentes? Puro ruído.
Sua bússola moral? Travou no “Norte da Minha Perfeição”, lá no seu pedestal imaginário, de onde distribui sentenças. Em nome dessa “justiça” particular, coleciona mal-entendidos, porque, afinal, para que ver outras cores se o preto e branco é tão eficiente para estar sempre certo?
A ironia é que, posando de farol, ele lança uma sombra de teimosia, incapaz de calçar os sapatos dos outros. Sua cruzada por um mundo “perfeito” (nos seus termos, claro) deixa tudo meio sem graça, sem a riqueza de um debate colorido.
Mas não se engane, o destino reservado a quem insiste em ver o mundo por um canudo tão estreito raramente é um desfile em carro aberto. A consequência provável para o nosso “Justus Daltônico” é o eco cada vez mais solitário de suas próprias certezas em salas progressivamente mais vazias.
Afinal, quem tem paciência infinita para monólogos monocromáticos? Talvez, só talvez, quando a irrelevância bater à porta e o pedestal imaginário começar a ruir sob o peso da própria intransigência, ele seja forçado a piscar e, quem sabe, perceber que o mundo lá fora é um carnaval de cores vibrantes e opiniões diversas que ele teimosamente ignorou