Tem gente por aí que adora convocar os outros para falar, mas na hora que o discurso sai do script, bate o desespero. A cara fecha, o tom muda, e vem aquela frase clássica: “Cuidado com o que diz.” Traduzindo: “Fale, mas só o que eu quero ouvir.” Aí fica difícil chamar isso de liberdade de expressão, né? Parece mais reunião de condomínio onde só o síndico pode opinar.
O problema é que tem quem se ache tão iluminado que confunde autoridade com sabedoria, e crítica com ofensa. O sujeito escuta uma opinião atravessada e já saca o manual da censura disfarçada de elegância. Tudo muito civilizado, claro. Mas o recado é claro: “fala baixo, ou vai sobrar para você.” Uma beleza.
Só que calar uma voz nunca resolveu nada. Muito pelo contrário — quem cala os outros, geralmente é quem tem medo de ser desmascarado. O silêncio imposto é uma forma covarde de se proteger da verdade. E verdade, quando quer sair, escapa até por entre os dentes trancados.
É curioso como alguns se dizem tão fortes, tão preparados, tão democráticos, mas desmoronam com uma frase mais ácida. Se a estrutura balança só com uma crítica, imagine com um debate de verdade. Vai ver o medo não é da palavra do outro — é do espelho que ela mostra.
A real é que quem não aguenta ouvir, talvez esteja com a consciência pesada ou com a vaidade inflada. Gente segura de si escuta até o que não gosta — e responde com argumento, não com ameaça velada.
Então é bom lembrar: calar alguém pode até parecer um ato de poder, mas, na prática, é só um atestado de insegurança. E vamos falar a verdade? Além de perigoso, é feio pra caramba.