Há invernos que esfriam o corpo. Outros esfriam a alma.
Em tempos de superficialidade fantasiada de sensibilidade, assistimos perplexos a uma sociedade que investe pequenas fortunas em bonecos de silicone, os chamados bebês reborn, enquanto seres humanos reais enfrentam o frio sem sequer uma manta para se proteger. É o retrato cruel de um mundo que, por vezes, escolhe mimar o artifício e ignorar a urgência do real.
É diante desse contraste que iniciativas como a do Grupo Colorado merecem não só visibilidade, mas também reverência e, sobretudo, replicação. Ao doar 50 mantas para cada uma das sete cidades onde está presente (Guaíra, Miguelópolis, Ituverava, Orlândia, Sales Oliveira, Morrinhos e Goiatuba), a empresa entrega mais do que tecido: entrega consciência social.
Numa sociedade que gasta tempo e dinheiro em roupinhas para bonecos que não sentem frio, doar cobertores para quem de fato treme à noite é quase um manifesto de sanidade. Cada manta distribuída representa uma escolha: a de olhar para o outro, não para o espelho.
Sim, os reborns podem ser terapêuticos para alguns. Mas quando viram fenômeno de consumo, desproporcional, exagerado, e desconectado das urgências humanas, revelam muito sobre as prioridades de quem os idolatra. Porque um boneco não sente fome. Um boneco não chora de frio. Um boneco não adoece à espera de um cobertor.
Pessoas, sim.
É por isso que o gesto do Grupo Colorado precisa ser mais do que aplaudido: ele precisa ser imitado. Outras empresas, instituições e lideranças têm, sim, o dever de se inspirar nessa atitude e transformar seus discursos de responsabilidade social em ações concretas. Não basta patrocinar eventos e pintar fachadas de gentileza — é preciso sujar as mãos de humanidade.
A sociedade está carente de gestos reais. Vivemos tempos em que se confunde afeto com curtidas, empatia com filtros e cuidado com simulacro. Doar mantas pode parecer pouco, mas, para quem tem nada, é tudo.
Este editorial é um convite, ou melhor, uma convocação, para que deixemos de lado os delírios artificiais e nos reconectemos com a realidade. Ela é dura, mas pode ser transformada. E isso começa com um cobertor, um olhar, um gesto.
No fim, não é sobre aquecer corpos. É sobre aquecer a consciência.