O povo brasileiro é, por natureza, paciente. Aprende desde cedo a driblar a falta de estrutura, a conviver com promessas vazias, a sobreviver com pouco e ainda sorrir no fim do dia. Mas há um ponto em que nem a esperança resiste. E quando se chega ao limite, não há discurso bonito que convença, nem sorriso falso que conforte.
Estamos diante desse ponto.
O limite chegou quando saúde virou luxo, educação virou estatística e segurança virou número de mortos. Quando o serviço público foi sucateado, o funcionalismo desvalorizado, e o trabalhador ou a ser visto como obstáculo. Chegamos ao limite quando corrupção virou rotina, e a ética, uma palavra bonita só usada em época de eleição.
Chegamos ao limite quando a política deixou de servir ao povo e ou a servir a interesses próprios. Quando muitos se calaram diante dos desmandos, são politicos que sumiram depois da eleição, e se especializaram em terceirizar a culpa.
Há um limite para o descaso. Para o clientelismo, para o jogo de empurra, para os acordos escusos feitos à sombra da democracia. E esse limite está estampado no olhar cansado de quem levanta cedo e volta tarde, pagando impostos altos por serviços que não funcionam. Está na indignação de quem vê direitos sendo tratados como favores, e favores sendo vendidos como grandes conquistas.
O povo chega ao limite quando percebe que o voto, sua única arma, tem sido tratado como moeda de troca, manipulado por promessas rasas e alianças de ocasião.Mas há uma lição que a história ensina: quando o povo chega ao limite, ele não silencia. Ele se organiza. Ele reage. E ele muda o rumo.
Este editorial é um alerta, mas também um chamado: que a política volte a ser instrumento de transformação, não de frustração. Que a representatividade deixe de ser discurso e se torne prática. E que os que ocupam cargos públicos saibam — o limite do povo é o começo da mudança.