Técnicos da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), órgão do Governo do Estado, visitaram propriedades rurais do município de Guaíra (SP) com foco na busca de soluções para o ataque da mosca branca na lavoura do feijão.
A visita técnica que foi solicitada pelo empresário Renato da Silva dos Santos, da Aplitec Agro e Elynes Antonelli, da Secretaria Municipal de Agricultura, contou com a presença de Rubens Koudi Imasaka, CATI Sementes e Mudas – Núcleo de Avaré, Rolando Salomão Carvalho, Diretor Técnico da CATI regional Barretos, André Fiorotto Oliveira, Chefe da Casa de Agricultura de Olímpia, Roberto Sebastião Kobayashi, da Casa de Agricultura de Guaíra.
Ao todo foram visitadas seis propriedades rurais com áreas entre 25 e 240 alqueires, sendo a Fazenda Nossa Senhora Aparecida, Fazenda Mangues, Sítio Mangues, Sítio Limão, Fazenda Santa Helena e Sítio Nossa Senhora Aparecida.
A MOSCA BRANCA
É um inseto que apresenta metamorfose incompleta, ando pelas fases de ovo, ninfa (quatro estádios) e adulto. As ninfas e os adultos possuem o aparelho bucal do tipo picador-sugador e nessa fase o inseto irá causar os danos diretos.
É uma praga bastante agressiva, pois apresenta alta capacidade de sobrevivência devido sua característica cosmopolita, se adapta às condições adversas de clima, apresenta alto potencial reprodutivo e dificuldade de controle.
Como o plantio do feijão irrigado é realizado na entressafra ou sem segunda safra, coincide com um período de alta pressão da praga no campo e muitas vezes sucede à cultura da soja, aumento os índices populacionais e o risco de perdas.
PREOCUPAÇÃO COM A MOSCA BRANCA
O empresário Renato da Silva Santos, sócio diretor da Aplitec Agro, demonstrou preocupação com a infestação da mosca branca no feijão e por isso acionou os técnicos da CAT.
“Estamos fazendo um tour com o pessoal da CATI para verificar a situação da mosca branca no município. Esse ano está tendo uma infestação muito alta de mosca branca, com virose, e precisamos saber se é o vírus Mosaico ou se tem outro vírus. Será coletado material em cinco áreas diferentes para uma pesquisa. Os técnicos irão avaliar os dados e o que a mosca está fazendo em nosso município. Tem áreas que estão com 30 dias que foi plantado, estão matando elas, ando a grade e replantando. Dependendo do que você fez de manejo e herbicida, nem poderá plantar o feijão novamente. Para plantar milho é preciso aguardar uns 60 dias, isso eleva muito o prejuízo e os preços para o produtor rural”, destacou Renato.
O produtor rural José Eduardo Coscrato Lelis, proprietário da Fazenda Santa Helena, uma das áreas visitadas pelos técnicos, pois, segundo ele, foi um ano muito desafiador para a agricultura.
“O cultivo de feijão é uma parte fundamental do nosso sistema de produção e está sujeito a constantes flutuações de preços devido a um mercado altamente instável. Além disso, este ano enfrentamos o aparecimento da mosca branca, que é portadora do vírus do mosaico dourado, causando impactos significativos em nossas produtividades. Portanto, é essencial compartilharmos essas informações não apenas com a rede oficial, mas também com os colegas e com a comunidade de pesquisa. Devemos tomar os cuidados necessários e estar atentos para mitigar esses problemas”, comentou José Eduardo.
O produtor rural esclarece que o diálogo com os profissionais da assistência técnica são cruciais, especialmente para compartilhar informações sobre a aplicação de inseticidas e o momento adequado para os plantios.
“Acredito que os dias de chuva que ocorreram aqui também tenham influenciado. Certamente, afetaram o momento em que a mosca estava ativa, além de terem contribuído para a dispersão da mosca pelo vento de um lugar para outro. Se a mosca estiver contaminada com o vírus nesse momento, infelizmente, há o risco de contaminação. No entanto, de maneira geral, às vezes os talhões plantados mais tarde tiveram menos impacto. Embora possam estar um pouco melhores, os que foram plantados desde o início de março até a segunda quinzena enfrentaram certos problemas aqui. Espero que aqueles plantados a partir de abril resultem em uma safra normal”, ponderou ele.
TÉCNICOS VISITAM E PLANEJAM AÇÕES
Rolando Salomão Carvalho, Diretor Técnico da CATI regional de Barretos, afirmou que atendendo a demanda importante, a visita com profissionais que possuem grande experiência no cultivo do feijão, oferece oportunidade para avaliar o contexto da infestação no município de Guaíra.
Carvalho explicou que identificaram inicialmente que por questões de mercado foi feita uma antecipação do plantio que costuma ser em abril para o mês de março. “ Isso ficou mais favorável dentro do ciclo da mosca branca. A partir dessa infestação você vai tendo um maior número de moscas contaminadas com o vírus e isso tende a se multiplicar pelas outras áreas do município. Estamos levando para outros pesquisadores do IAC e temos a previsão de fazer um evento para trazer estas informações e análises, com foco em orientar efetivamente os períodos de plantio em função das pragas. Devemos buscar meios e técnicas para conviver com elas. Não adianta plantar fora da época com vento desfavorável. Temos que fazer o controle. Acabou que o barato acaba saindo mais caro”, destacou Rolando
Rubens Koudi Iamanak, da CATI, Núcleo de Sementes e Mudas de Avaré, afirma que o produtor não deve lutar contra a mosca branca, mas sim evitar o contato com ela. “Portanto, pelo que observei durante minhas andanças, o plantio foi realizado em uma época em que a população dela estava muito alta, resultando em cerca de 20%, 30% ou até 50% de ataques até o momento. E quanto aos plantios mais recentes? A tendência é que tenham menos problemas com o mosaico do que aqueles plantados em março, certo? No entanto, não adianta aplicar produtos todos os dias contra a mosca branca, pois isso não resolverá o problema. A presença dela é endêmica na região.
Rubens esclarece que a partir de janeiro e fevereiro, até o pico em março, o ataque da mosca branca diminui, e em abril ainda menos. “Portanto, o plantio deve acompanhar o clima e a partir de abril ou maio, que seria o ideal para a região, provavelmente”, destacou ele.
Outra preocupação demonstrada pelo técnico é com relação a geadas. “Na nossa região, é comum dizer que a mosca branca se manifesta durante um período, enquanto a geada é mais presente em outro. Temos, então, dois eventos complicados: a mosca branca nos primeiros meses do ano, de janeiro a março, e a geada vindo em junho e julho. Não sei como é em relação à geada em outras regiões, mas em Avaré preferimos arriscar com a geada do que com a mosca branca. Com a mosca, é praticamente certo que haverá insucesso, enquanto com a geada há anos em que ocorre e anos em que não. Além disso, as pessoas que arriscam estão preparadas com os equipamentos necessários para controlar os efeitos da geada”, comentou ele.
O técnico finaliza trazendo mais informações sobre a mosca branca. “Vamos usar uma analogia: a mosca branca funciona como uma tranca na corrente, bloqueando a agem de nutrientes da raiz para a parte aérea da planta. Isso interrompe o fluxo normal, resultando em plantas raquíticas, com folhas tortas e menos grãos por planta”, destacou ele.